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Madre Teresa é canonizada pelo Papa em cerimônia no Vaticano
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Publicado em 05/09/2016

Imagem da nova santa foi exibida na Praça de São Pedro, surante a cerimônia de canonização - STEFANO RELLANDINI / REUTERS

Missa reuniu cem mil fiéis na Praça de São Pedro

por O GLOBO / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

 

VATICANO - O Papa Francisco declarou madre Teresa de Calcutá santa na manhã deste domingo. Conhecida mundialmente pelo seu trabalho com órfãos e doentes na Índia, a canonização foi oficializada em uma grande missa na Praça de São Pedro, em Roma, que reuniu aproximadamente cem mil fiéis.

- Talvez, possamos ter alguma dificuldade em chamá-la de Santa Teresa. Sua santidade é tão próxima de nós, tão suave, que continuamos a chamá-la espontaneamente de Madre Teresa - disse o Papa durante sua homilia.

A canonização aconteceu 19 anos após a morte de Madre Teresa, que recebeu a alcunha de "santa das sarjetas", por sua trajetória de caridade, sobretudo com a população pobre nas favelas da cidade indiana de Calcutá. O reconhecimento como santa também é o principal ato do Ano Santo da Misericórdia, iniciado pelo Papa Francisco em dezembro do ano passado, com término no dia 20 de novembro deste ano.

A cerimônia de canonização começou às 10h18m deste domingo (5h18m de Brasília) com o canto do hino do Jubileu da Misericórdia e transcorreu em clima festivo. Fiéis agitavam bandeiras da Albânia e da Macedônia, representando as origens da freira, e da Índia, país em que ela passou a maior parte da vida.

A missa teve a participação de 70 cardeais, 400 bispos e 1,7 mil sacerdotes. Além disso, cerca de 1.500 moradores de rua de toda a Itália foram levados a Roma para acompanhar a celebração em assentos de honra. Após a cerimônia, o Papa ofereceu pizzas a todos eles, servidas por membros da ordem da Madre Teresa.

Debaixo de uma pintura que mostra a freira com sua veste branca e bainha azul pendurada na Basílica de São Pedro, Francisco disse que ela era uma "dispensadora da misericórdia divina" e responsabilizava as potências mundiais "pelos crimes da pobreza que criaram".

- Para Madre Teresa, a misericórdia foi o sal que deu sabor a seu trabalho, foi a luz que brilhou nas trevas dos muitos que não tinham mais lágrimas para derramar por sua pobreza e sofrimento - disse ele.

Segundo Francisco, ela esteve à disposição de todos "por meio da recepção e da defesa da vida humana". Ele também elogiou a luta da santa contra o aborto e recordou que ela costumava sempre dizer que "quem ainda não nasceu é o mais frágil".

Francisco afirmou, ainda, que a figura de Madre Teresa será a santa de "todos os voluntariados", pedindo que ela fosse considerada o "modelo de santidade".

MILAGRE BRASILEIRO

Pelas regras da Igreja, uma pessoa só se torna santa após a comprovação de dois milagres. O primeiro aconteceu em 5 de setembro de 1998, com a indiana Monica Besra, que afirma ter sido curada de um câncer por uma “luz cegante” vinda de uma fotografia da religiosa, morta exatamente um ano antes. O segundo salvou a vida do brasileiro Marcilio Haddad Andrino.

Natural de Santos, em São Paulo, Andrino esteve perto da morte ao ser diagnosticado com oito abscessos no cérebro, que formaram um quadro de hidrocefalia. No dia 9 de dezembro de 2008, os médicos recomendaram uma cirurgia de emergência, que por motivos burocráticos e de saúde, teve que ser adiada. No dia seguinte, Andrino acordou sem dores, o líquido no cérebro havia escoado e os abscessos, diminuído. Sem explicações científicas, a cura foi atribuída aos pedidos da esposa de Marcilio, Fernanda Nascimento Rocha, à Madre Teresa.

HISTÓRIA DE DEVOÇÃO E POLÊMICAS

Nascida em agosto de 1910 em Skopje, na época uma cidade albanesa e atual capital da Macedônia, Anjezë Gonxhe Bojaxhiu ingressou aos 18 anos na Ordem Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, com sede em Dublin, na Irlanda, onde passou a ser chamada Irmã Maria Teresa. Após alguns meses no convento, foi enviada a Calcutá, na Índia, onde se tornou professora de uma escola religiosa para meninas. Em 1937, professou seus votos perpétuos e passou a ser conhecida como Madre Teresa.

Em setembro de 1946, durante uma viagem de trem entre Calcutá e Darjeeling para um retiro anual, Madre Teresa recebeu seu “chamado dos chamados”. Nos meses seguintes, relatou visões com Jesus Cristo, que teria revelado sua dor pela negligência aos pobres e pedido à religiosa dedicação aos “mais pobres entre os pobres”. Em 1948, Madre Teresa vestiu o sari branco com detalhes em azul pela primeira vez, deixou a ordem de Loreto e foi viver em bairros pobres.

Nas favelas, cuidou de crianças desnutridas e de adultos famintos e doentes. Seu trabalho começou a atrair algumas de suas ex-alunas e, em outubro de 1950, a Congregação das Missionárias da Caridade foi oficialmente fundada na Arquidiocese de Calcutá. Hoje, o grupo religioso criado por Madre Teresa tem cerca de 4.500 membros espalhados por mais de cem países.

Em 1979, Madre Teresa foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz. Em 1997, quando morreu, seu caixão foi carregado pela mesma carruagem usada na cerimônia fúnebre de Mahatma Gandhi.

Mas apesar de toda a reverência, seu histórico de santidade é contestado por muitos críticos, os quais dizem que ela fez pouco para aliviar a dor dos doentes terminais e nada fez para combater as causas da pobreza. Ela também foi acusada de tentar converter os destituídos da Índia predominantemente hindu ao cristianismo, uma acusação a sua missão repetidamente negada.

O jornalista britânico Christopher Hitchens, morto em 2011, foi um dos maiores contestadores do legado de Madre Teresa. No livro “The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice”, ele a acusa de ser uma fraude por romantizar a pobreza para propagandear suas crenças contrárias ao aborto, a métodos contraceptivos e ao divórcio, além de supostamente manter relações com ditadores e aceitar doações de fontes questionáveis.

As condições de higiene dos centros de acolhida fundados pela missionária também foram fortemente questionadas. Depois de ter sido voluntária por oito anos nas missões fundadas pela freira, a americana Hemley Gonzalez criou sua própria ONG em Calcutá, por suas divergências com a organização.

Ela disse ter visto freiras lavando seringas com água da torneira para reutilizá-las ou ter sido criticada por cortar o cabelo dos moribundos, já que, de qualquer forma, eles tinham pouco tempo de vida.

Apesar das denúncias, a rede das Missionárias da Caridade, cresceu fortemente após a morte de sua fundadora. Atualmente, a entidade administra um total de 758 centros em 139 países, com cerca de 5.000 religiosas trabalhando.

O Papa João Paulo II, com quem ela se encontrava com frequência, também não se abalou com os questionamentos. Ele não tinha dúvidas sobre sua elegibilidade à santidade e, dois anos depois de sua morte, em vez dos cinco usuais, colocou-a na trilha da canonização.



 

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